o político se acostumou a cuspir esperança e o povo se acostumou a engolir promessa;
a industria farmacêutica se acostumou a lucrar com a saúde e nós acreditamos que seu lucro é saudável;
os alimentos se acostumaram em alimentar milhares e a falta deles se acostumou a deixar milhões sem comer;
a polícia se acostumou em ser violenta e a reivindicar a falta de apoio por usar a violência;
a gente se acostumou em tratar a natureza como se fosse uma empresa e lucrar comercializando seus recursos e a destruir a própria natureza;
a mentira se acostumou com a sua verdade e a verdade se acostumou com a solidão;
acostumamos com as armas porque nos convenceram de que elas são necessárias para a segurança pessoal e a insegurança coletiva;
o povo se acostumou em prejudicar seu semelhante e o governo se acostumou em prejudicar o povo;
acostumamos em atribuir a miséria a um problema pessoal decorrente da ausência de esforço, porém o governo se alegra por não ser responsável e agradece ao nosso costume;
acostumamos com as mentiras da televisão porque sabemos que a fantasia é um consolo para a solidão;
fomos convencidos em acreditar que a vida é uma corrida em direção a morte e nos acostumamos em acreditar nessa ideia;
a ciência se acostumou a enviar foguetes ao espaço e não se interessou em acabar com a fome na terra.
confortável sossego,
dócil postura,
silêncioso desespero...
estamos acostumados porque nos acostumamos.